segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Medo Em Israel - Julia P. Hamoui

Olá, me chamo Julia Pessôa Hamoui, e para a minha experiência estética, decidi falar de algo que aconteceu comigo esse ano, algo que muitas pessoas no Brasil não achariam normal. No começo de 2012, fui morar em Israel. Sou Judea, e portanto me identifiquei muito com o país e me apaixonei. A mídia no Brasil, quer dizer, no mundo inteiro, sempre relata de acontecimentos sobre o conflito de Israel e os Palestinos, porém, estar lá presenciando todo esse conflito é bem diferente. 

Eu passei uma boa parte do meu tempo na cidade de Ashdod, onde morava um namorado meu, e em Ashquelon, onde tenho parentes. Essa cidades são no sul de Israel, perto da Faixa de Gaza, onde vários terroristas palestinos permanecem. Durante minha estadia em Ashdod, estava em casa quando o alarme de aviso de que mísseis foram lançados tocou alto por toda a cidade. Assustada, olhei para as pessoas em casa, e todos me explicaram com calma o que fazer, e para não se preocupar. Esses mísseis são lançados pelos palestinos da Faixa de Gaza para atacar os Israelenses. Depois deste primeiro míssil que presenciei em Março, a noite, tiveram vários durante a madrugada e na semana inteira, com intervalos de mais ou menos duas horas cada. Após algumas horas, já estava acostumada. As aulas foram canceladas naquela semana, porém, a vida continuava normal, e ninguém ficava muito nervoso, o que me deixava perplexa. Apesar de sempre ser um susto, os cidadãos nem ligam mais, e prosseguem sua vida normal, depois que o míssil cai (após ouvir o "boom") ou é interceptado. As Forças de Defesa de Israel interceptaram muitos desses mísseis lançados através de sua própria tecnologia de um sistema chamado de "Iron Dome", um escudo, que através de um radar, consegue interceptar mísseis e morteiros a distancias de até 70 km. 

Essa experiência foi uma das mais marcantes da minha vida por diversas razões. A primeira, sem dúvida, é aquela de realmente perceber que as "coisas" do jornal, da internet e noticiário, realmente acontecem. Lógico, sempre sabemos que acontecem, mas nunca "cai a ficha", e nunca nos importamos de verdade, até sentir na pele a situação. Abriu meus olhos pro mal da humanidade, e como nós ser humanos somos capazes de querer a morte de um outro. Me fez perceber como esses conflitos destroem famílias e futuros. A segunda razão foi perceber a atitude da família com quem eu compartilhava esse momento. Todos, além de ficarem calmos, agiam em uma naturalidade fora da minha realidade. No primeiro alarme, fiquei extremamente assustada, com medo de algo tão horroroso. Mas, já na madrugada, estava acostumada e ignorei. Ao perguntar para o meu amigo e sua família porque eles não tem medo a resposta foi "Ah, já estamos tão acostumados.. A gente reza para que não machuque ninguém e para que o míssil seja interceptado, mas o que vamos fazer? Sair das nossas cidades por ameaças? Parar a vida? Não, vamos seguir em frente". Após ouvir essas respostas, passei por uma profunda reflexão. Quis contar para todos meus amigos e parentes no Brasil sobre tudo que havia passado, e como as pessoas lidam com tal fato. Quando eu falava que a cidade estava sendo atacada por mísseis, muitos desesperaram, apesar de Israel ser um dos países mais seguros do mundo! E à partir daquele momento, comecei a encarar a vida de forma diferente. Passei a não reclamar por coisas pequenas, e passei a admirar muito os Israelenses, e com certeza outros povos que sofrem com situações similares no seu dia-a-dia onde seus filhos são obrigados à ir pro exército (como no caso de Israel) e mães morrendo de medo no que possa acontecer. Essa foi uma lição para uma vida e uma experiência que jamais será esquecida, pois modificou meu olhar sobre o mundo, meus valores, e a vontade de ajudar o próximo. 

O Iron Dome defendendo os rockets lançados para Israel

Eu vestida de soldada das Forças de Defesa de Israel. 

Escola atingida por míssil. 

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